terça-feira, 13 de setembro de 2011

Fazendo feira na Kashimira

Lá pelo terceiro dia, a gente cansou de take it easy e decidimos shake our Bundas (eu ensinei pro pessoal o que é necessário e fundamental saber né).. Ai resolvemos que iriamos no market, que é uma feira no meio do lago da Kashimira às 6h da manhã. Mó programão de indio né (pra nao dizer de indiano)! Também pensei isso quando sugeriram o passeio, mas né.. se todo mundo vai, eu é que não vou perder!

Acordamos as 5:30h da manhã e fomos. Um barquinho veio lá pra nos buscar e a melhor parte foi o caminho.. Como eu disse pra vocês, estávamos na Kashimira em pleno Ramadan (já expliquei o que é o ramadan? ta vou falar de novo, se ainda não falei: é o período de jejum dos muçulmanos, quando eles ficam sem comer e sem beber (nem água) das 3h ou 4h da manhã até as 7h da noite. E então eles se reunem, os homens, para as rezas e serio gente, é lindo de ver, de ouvir e de sentir..), então enquanto o barco ia pra feira, era escuro e podíamos ouvir as vozes masculinas rezando (cantando) vindo das casas. No nosso barco tinham 7 pessoas e o silêncio era absoluto, a não ser o som daquelas vozes.
Sabe as nossas romarias que temos no Brasil? A beleza das vozes em conjunto era similar, a diferença é que nas nossas romarias as vozes femininas predominam e nessa noite/manhã eram as vozes masculinas que predominavam. Mas lindo, valeu o passeio! Que indiada que nada, programaço de domingo.. so perde pra um churrasquinho na beira da piscina (tá vamos mudar de assunto que a abstinência tá pegando).

Desculpem-me pelo vídeo, mas ninguém tinha uma camera descente ali. Meu amigo que ia me emprestar a camera HD dele, deu uma de indiano e deu o KO. Mas enfim.. ta ruim, escuro, nao da pra ver nada, mas é só pra ter uma ideia..



No caminho o dia foi clareando e fomos encontrando com alguns comerciantes que estavam chegando.. Ja no meio do caminho começaram as negociaçõs e as primeiras compras. Eu não comprei nada (sério! Juro! Aaah so tinha fruta e flor.. que que eu quero com fruta e flor?) hahaha to brincando.. tinha uns pinduricalho tambem, mas eu nao comprei nada mesmo.
Quado a gente chegou, era aquele bando de barcos, todos amontoados, batendo uns nos outros, uma gritaria entre eles. Tu sempre jura que estão brigando.. mas nem sempre, as vezes são estão só falando de ti mesmo, de como tu é alien estranho entre eles. Enfim.. também valeu a pena.. o pessoal fez altas compras, até flor de lotus compraram!!! Pra não dizer que eu não comprei nada, eu comprei um pão por 5 rupias na volta porque eu ja tava morrendo de fome. (aii eu sei que vocês vão dizer.. siim né, sempre). Pois é.





Quando voltamos pra casa, foi todo mundo dormir e os italianos foram embora. Foi aí que eu tive o sonho mais lindo em todo esse tempo na India (tooodo esse tempo, nem dois meses, mas enfim..). Eu sonhei que era Natal, tava super frio e estava toda minha família numa casa linda. Estavam todos e eu conversei com um por um, com a dinda, tia dionisia, lintchen, fabi, ieie, cacá, dindo, fábio, tio tarcísio, tia marlene de mato grosso, a vó.. todos, todos! E eu fui cumprimentar um por um e dizer o quanto eu tava feliz de estar com a minha família ali, o quanto eu amava todo mundo. Foi muito real e muito gostoso. Quando eu acordei, me deu uma dor profunda de ter sido só um sonho. Eu desejei desesperadamente voltar. Comecei, ali na cama mesmo, deitada, a imaginar minha conversa por skype com os meus pais dizendo que não dava mais e que eu precisava voltar. Mas eu sabia que era insano, mas era a unica coisa que eu queria ali naquela cama.
Eu e a Ju começamos a conversar.. sobre um mundo de assuntos que eu não me lembro muito bem, só me lembro que todos eles me faziam chorar mais, escandalosamente. Comecei a chorar não mais por mim, mas por todas as pessoas que eu conheci naquela India. Todas aquelas famílias que vivem daquele jeito que eu jamais conseguiria viver. É muito interessante tudo no inicio.. comer com a mão, usar aqueles banheiros legais, carregar teus lencinhos pra cima e pra baixo, tirar foto com os teus fãs, dormir no chão, usar aqueles banheiros estranhos, tomar banho de canequinha e gelado, tomar chai a cada meia hora, tomar agua e cerveja quentes, usar aqueles banheiros horrorosos de novo.. ta vendo? De legal tudo passou pra horroroso. Eu sempre doente, a comida eu não podia mais nem ver, não tava me reconhecendo.. eu andava triste, meio sem vontade pra nada, com o pensamento e o coração lá em Porto Alegre.. aquela não era eu. Eu tinha até vergonha de tão sem graça que eu tava no últimos dois dias.
Chorei por mim e chorei por aquela gente que não tem opção de voltar pra casa e encontrar o conforto de novo. Essa é a vida deles, pra eles não muda.. "coitadinhos"! Foi aí que o Francis me disse uma coisa que eu não gostei de ouvir, mas acho que ele tinha razão. Ele disse: para de dizer que tu sente muito pela vida dessa gente. Tu vê alguém chorar? Eles são felizes! Quem foi que te disse que eles tao infelizes? Para de por a culpa na dor dos outros, essa dor é tua, só tua. É tu quem não aguenta viver a vida deles, não eles. Isso é demais pra ti, não pra eles. Abri o berreiro mais uma vez.. "quem foi que te deu o direito de me dizer umas verdades?" pensei comigo.


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